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Por

JULIANA FERRAZ NIKOVSCHI

 

•PSICÓLOGA

Especialista em Auto Aceitação dos nossos limites, do nosso corpo e da nossa história

 

CRP 91822

SP  @meuexistir

PSICÓLOGA AUTO-CONHECIMENTO

V Quando eu comecei a me odiar

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Quando eu era ainda criança, por volta dos 7 anos, me lembro de já me sentir desconfortável, pois me achava muito alta em relação as outras coleguinhas da minha sala de aula.

Na minha pré-adolescência, por volta dos meus 13 anos, comecei a odiar o meu pé, porque meus dedos não eram (e não são até hoje) simétricos. E por isso não usava sandálias, jamais!

Depois passei a odiar (por volta dos 15 anos) a minha pinta no rosto, achava totalmente fora do padrão e por isso me achava menos bonita.

Logo depois (por volta dos 17 anos) passei a odiar o meu cabelo, que sempre foi ondulado e armado, então naquela época eu comecei a fazer escova todos os dias, e claro, quando os alisamentos chegaram eu fui correndo garantir o meu cabelo liso e amei a praticidade dos alisamentos que duravam meses!

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Na mesma época comecei a odiar o meu corpo como um todo. Conseguia achar defeito em quase tudo. Me achava gorda mesmo pesando 62 quilos com 1,71. Quando a balança acusava um pequeno aumento de peso, para 65, 67 quilos, eu fazia dietas super restritivas, e logo procurava por endocrinologistas que me receitassem remédios e o pior é que realmente me receitavam. Cheguei a tomar anfetaminas prescritas por médico, mesmo com todos os efeitos colaterais como agitação, ansiedade, boca seca, irritabilidade, entre tantos outros, só para não ter vontade de comer e com isso baixar alguns poucos dígitos na balança.

Achava minhas pernas grossas e queria que fossem mais finas e longas, queria ter menos quadril, mais seios, menos barriga, menos peso na balança!

Sempre foi uma luta desde os meus 20 anos para perder 3, 4 quilos e mesmo quando eu chegava a ter o peso da balança que eu perseguia, eu não me sentia magra o suficiente. E esse ciclo, de buscar algo que eu nunca alcançava e seguir me odiando e não me aceitando se perpetuou por mais da metade da minha vida.

E em um dado momento, comecei a perceber que viver esse ódio é normalizado de diversas formas. Perceba como os comentários sobre o próprio corpo ou sobre o corpo das outras em nosso dia a dia são carregados de não aceitação e ódio por nós, e tudo bem!

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Já percebeu como nós nos sentimos no direito de comentar sobre o corpo das outras pessoas? Emagreceu está linda! Ou então, engordou um pouco? Ou ainda, está magra demais, está gorda demais, não tem quadril, não tem bunda, poderia ter usado um filtro nessa foto, etc.

Influenciadoras que vemos nas redes sociais, as indústrias cosméticas, da moda, das dietas, das cirurgias estéticas, das revistas femininas, exploram a questão dos padrões de beleza a todo o momento e sobretudo esse ódio pelo nosso corpo.

Hoje tenho 37 anos e sinto que perdi muito tempo me odiando, me depreciando, foram muitos anos.

E vejo isso se repetir a todo momento, desde a adolescência. Meninas que não são capazes de aceitar características que as diferenciam umas das outras, de aceitar que nossa pele tem manchinhas, marquinhas, que o nosso nariz não tem um padrão e pode ser de diversos formatos e tamanhos, de aceitar que nossos corpos são perfeitos como são e possuem características diferentes uns dos outros.

E dessa forma o ódio por nosso corpo e a busca por um padrão que não é alcançável é perpetuado.

Perdemos um tempo precioso nos odiando e achando que só vamos viver plenas quando o rosto tiver assim, o corpo estiver daquele jeito, sempre em busca de um padrão, que na real, sabemos que é inalcançável.

Esse texto não é sobre não usar tinta no cabelo, ou maquiagem, ou não alisar o cabelo ou ainda sobre não usar cílios que não sejam o seu, ou lançar mão de qualquer outro recurso que te faça se sentir bem. Esse texto é sobre aprender e praticar a aceitação desde cedo e sobretudo a não nutrir o ódio por si, pelo próprio corpo!

Hoje já não me odeio mais e estar nesse lugar me faz muito bem e também me faz repensar alguns hábitos de consumo e de comportamento relacionados aos cuidados comigo de forma geral.

Minha pinta ainda está aqui, meus dedos continuam do mesmo jeito, meu corpo com as mesmas características, porém com mais peso se comparado aos meus 20 anos e o meu cabelo que está passando por uma transição capilar está um caos, mas, optei por redescobri-lo real, depois de 20 anos usando químicas fortes e nocivas para mudar a sua estrutura.

Passei a amar tudo isso que eu odiava? Ainda não, mas não odeio mais, não me deprecio mais por isso e não acho mais que só serei uma mulher plena corrigindo tudo isso.

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Me amo todos os dias? Claro que não! Mas eu não passo mais todos os dias odiando a minha imagem.

Parar de alimentar o ódio por nós mesmos deve começar em normalizar corpos reais, pessoas reais, peles reais.

Em alguns países como França e Israel, desde 2017 as revistas são obrigadas a avisar se usaram retoques digitais nas fotos. Aqui no Brasil existem diversos casos de fotos que foram tão manipuladas que o umbigo ficou no lugar errado, um lado do quadril ficou menor do que o outro, entre outras aberrações digitais.

Minha motivação para escrever esse auto relato foi a de contar uma parte da história da minha vida que sempre foi normalizada, por mim e por todos ao meu redor.

Vejo isso acontecendo cada vez mais, de formas diferentes. Então, se você se identificou com essa história, comece a olhar para si de forma diferente, prestando mais atenção em como está se relacionando com seu próprio corpo desde a infância. Essa reflexão já pode ser o início da quebra de um ciclo de ódio e o início de um ciclo de aceitação.

Para mim, quebrar esse ciclo foi e ainda é um trabalho árduo, mas extremamente libertador. Se amar só é possível quando a gente se aceita e se admira.

Por
Juliana de Azevedo Ferraz Nikovschi